Por
enquanto, só fumacinha preta...
Augusto
José Chiavegato
Lá se vai o
conclave
furando ondas bravas, nossas esperanças um tanto fracas, as
perspectivas incertas. Se o Espírito Santo não virar os ventos, a
barca de Pedro vai a deriva. O papa tinha razão: meus
caros, o mar não está pra peixe na Igreja.
É, receio, mas estou tranquilo. Embarco-me na paciência
multissecular de Deus, por isso espero enquanto vivo. Será que
retrocedemos aos tempos da Igreja e de conclaves cheios de política
e ambição? Não creio. Mas, Ratzinger ficou muito triste, eu
também. Algumas razões são evidentes, outras disfarçadas em
entrelinhas, a saber, os pedófilos e as maracutaias
no Vaticano na expressão de conhecido vaticanista. Quanto aos
pedófilos, espanta-me o número dos casos. Um ou outro, vá lá,
acontece, resolve-se por trabalho de psiquiatra de meio-tigela.
Agora, quando os casos grassam à beira de epidemia, não se
resolve em modificando a lei do celibato. O problema está muito
abaixo. Amor que nasce torto, nem mulher conserta. Vale a pena
aprofundar este problema, em outra oportunidade. Por outro capítulo
de crise concerne aos subterrâneos do Vaticano envolvendo
eclesiásticos e leigos em ambição de poder e de dinheiro. O
primeiro conjunto de problemas (sexo),
afeta o corpo, aqui atingem a alma, a essência do cristão.
Como todo padre, passei por baixo dezessete anos de formação
centrada na castidade, no desprendimento de riquezas e na humildade.
Seminarista tinha que ser casto, se não, estava fora. Um monte de
meninos entrava no seminário, uma ínfima minoria chegava à
ordenação. Por exemplo, no meu caso: de cinquenta e quatro meninos,
só quatro se ordenaram. Sem dúvida, o impedimento principal era o
celibato. Quando se passa por este obstáculo, o resto a gente tirava
de chaleira. Voto de pobreza não tínhamos, somos donos do
dinheiro, o suficiente para sermos pobres dignos. Ensinavam-nos a
sermos humildes, a fugir de carreirismos. Pasmo fiquei ao saber
eclesiásticos tropeçando em sexo, em ambição de dinheiro e de
poder. Haja fé, haja amor, haja esperança a animar um velho papa.
Certo que as tem, mas ante sua tristeza está na hora de acordar
Jesus no fundo da barca. A galera clama pelo Espírito Santo
sentado no banco. Insisto: Deus não joga, esse jogo é de homens.
Antes do conclave, fecham-se os cardeais em oração cantando ao
Espírito: Vem
Espírito criador! e
entraram piedosamente carregados de boa vontade, acredito, tudo
entregando às mãos de Deus, corações leves a escutar
passarinhos cantando nos jardins do Vaticano, crendo ouvir os
gorjeios do Espírito Santo. Respeito a oração de todo o mundo que
Deus ilumine os cardeais. Uno-me a todos que se prostram no chão,
de joelhos, confiando nos cardeais. Creio que esta comunhão dos que
rezam fortalece nossa esperança e ânimo. Mas, Deus não gosta
muito de milagres e mais de mil vezes repito: Ele respeita nossa
liberdade. O Espírito Santo nunca foi classificado nos conclaves.
Mistérios de Deus das mãos que nos oferecem diante de nossa
liberdade. Por aí vamos, por aí la
nave va. Deus está
aí, não se vê, erga os que caem, consola os tristes, dá um
jeito em nossas burradas, nele creio, está ao nosso lado,
esperando quando nos tornam “um”
, consumados no Amor.
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